domingo, fevereiro 26, 2006

Los Olvidadaos











Deste filme de Buñuel -mexicano, amigo de Lorca e de Dali- Palma de Ouro de Cannes, 2005, para lembrar que há cinema - Muito, tão bom e melhor do que 99% do cinema americano que nos invade. Vamos todos ver os óscares e os oscarizáveis. Por que há pouco cinema para além desse?, será? Ou por não irmos ver o pouco que por cá passa?
Mea culpa,
pois me deixo arrastar pela onda. Ora, esses filmes que olvidamos são em regra geral muito bons, por que, caso contrário, nem cá chegavam. Imaginem o que seria se aplicassem o mesmo critério ao cinema americano! Ficámos com o 1% bom, o que era óptimo: não arriscávamos tantos barretes.

A propósito, vou só lembrar 3 filmes que passaram por cá há pouco e pelos quais se passou como cão por vinha vindimada:

1 - A Dama de Honor (La Demoiselle D'honeur), de Claude Chabrol, uma obcessão (à Match Point) levada ao extremo, louca, tirada de um livro de Ruth Rendell, só podia..., comBenoit Maginel e Laura Smet;

2 - O Sétimo Dia, de Carlos Saura, um filme sobre o ódio. Um ódio irracional, com danos colaterais e tudo. Dois ódios antigos entre duas famílias. Não há bons e maus: todas as personagens são protagonistas nesta saga trágica. Não há actores a enfeitar para fazerem brilhar a special guest star. É um filme, de um grande realizador (Tango, Goya, Ana e os Lobos, Pipermint Frappé e muitos outros.

3 - O Pântano (La Ciénaga) um filme, de Lucrecia Martel, uma realizadora argentina, que mesmo assim se aguentou algum tempo e até voltou à exibição em tempos recentes. O pântano é a situação de uma família da alta burguesia argentina. De facto, aquela casa, aquela piscina, aquele racismo atávico dos hispano-americanos contra os índios tresanda a atoleiro social. Um filme duro de cores dissolutas, como o ambiente, com duas actrizes fenomenais: Mercedes Morán e Graciela Borges.

Para filmes esquecidos, o Coro dos Caídos. Ainda não vai como eu gostava, mas estou à espera que quem sabe cumpra a promessa...


http://ignatz.alojamentos7.com/amandio/ZAfonsoParedesLGoes_CoroCaidos.mp3

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

CAPOTE, a quente


O que há de
comum entre
estas quatro
imagens:
três filmes e dois escritores?
Para quem não viu, Harper Lee acompanhou Truman Capote durante as pesquisas sobre o massacre de uma família no Kansas em 1959 e escreveu o livro "To Kill a Mocking Bird" (1963), que deu um filme, sublime de ternura, de Robert Mulligan. "Capote" centra-se no período e nas circunstâncias que deram origem ao livro "In cold blood", de Truman Capote, que Richard Brooks adaptou ao cinema em 1967. Os filmes de 63 e 67 foram nomeados para os óscares de melhor realização, que seriam ganhos, respectivamente por Tony Richardson, com "Tom Jones", e Mike Nichols, com "The Graduate", dois filmes respeitáveis e de culto.
"Capote" vai com certeza ter óscares, pelo menos está nomeado para uma série deles: melhor filme, melhor actor, melhor secundário e melhor argumento. Os óscares fizeram-se para promover e vender o cinema dos USA nos USA, ou os vendáveis lá e no mundo .
Philip Hoffman não vai passar a ser melhor actor do que já é, mas finalmente irá deixar de ser o eterno secundário, premiado e muito nomeado, apesar de já ter ganho um como melhor actor no Festival de Vancouver.
Do realizador Bennet Miller havia até agora apenas um episódio de "Charlie Rose Show" para TV e "The cruise"; pelas críticas, um documentário interessante sobre Nova Iorque. É pouco? É o suficiente para fazer uma entrada triunfal num filme de grande orçamento.
Mas Bennet não se deixou dominar pelos meios que teve à disposição e construiu um filme onde a única exuberância é a de Capote/Seymour na parte inicial do filme. Exuberância que vai definhando à medida que ele escava as circunstâncias do crime, as motivações dos criminosos e as raízes do acto, sobretudo de Perry (um Clifton Collins Jr., à Montgomery Clift-on). A qualidade da interpretação de Seymour revela-se no modo imperceptível como decresce de exuberância, até ao abatimento emocional, quando tudo acaba, até o fervor da escrita. A própria cor, sempre esbatida, ensombrece à medida que o filme avança. Os silêncios e os diálogos são os os grandes tensores. A própria cena final prima pela contenção. Está tudo dito, tudo feito e Capote encerra-se no seu labirinto. A câmara, mesmo quando faz uma panorâmica curta e trémula sobre os trémulos condenados, já vestidos com os atavios do ritual da execução, não se serve a si, serve o filme. A consciência de que o que separa falhados de triunfadores, nascidos e criados em circunstâncias idênticas, é tão só a saída pela porta dos fundos ou da frente (metáfora de Capote), devia-nos fazer pensar - a todos - no papel do acaso nas nossa vidas.
Enfim, um filme muito bom, de um realizador muito bom. A não perder.
Estrelas? **** (Falta uma, pelo crime de quase nos fazer esquecer o filme de Brooks)

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

De CASH, ONE: a música e a letra








http://ignatz.alojamentos7.com/amandio/Cash_one.mp3

Da colectânea Unhearted, ONE

Lamento não saber ainda postar música de uma maneira mais amigável. Mas acho que vale a pena.

"One"
Is it getting better
Or do you feel the same
Will it make it easier on you now
If you've got someone to blame

You said one love
One life
When its one need
In the night
One love we get to share it
It leaves you baby if you don't care for it

Did i disappoint you
Or leave a bad taste in your mouth
You act like you never had love
And you want me to go without

Well its too late
Tonight
To drag the past out
Into the light
We're one but we're not the same
We get to carry each other
Carry each other
One

Have you come here for forgiveness
Have you come to raise the dead
Have you come here to pray Jesus
To the lepers in your head

Did i ask too much
More than a lot
You gave me nothing now
Its all i got
We're one but we're not the same
Well we hurt each other and we're doing it again

You said love is a temple
Love the higher law
Love is a temple
Love the higher law

You ask me to enter
But then you make me crawl
I cant be hold in onTo what you've got
When all you've got is hurt

One love
One blood
One life
You you've got to do what you should
One life with each other
Sister

Brothers
One life but we're not the same
We get to carry each other
Carry each other
One

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Brockeback Mountain: o Segredo


Basta ver a foto para adivinhar o segredo que existe entre Del-Mar e Twist: eles cometeram um crime e estão envergonhados.
Diga-se que, como história, não é original, só que, neste caso, o crime foi cometido e reincidido ene vezes num cenário de bilhete postal, embora agreste: até neva em Agosto.
Rodeados de ovelhas e montanhas, cercados por desfiladeiros, rios tumultuosos, coiotes, alces e ursos, tudo aproxima estes cavaleiros olvidados da grande democracia estado-unidense (que raio de país que nem nome tem!) e os move a perpetrarem o crime horrendo e, como todos os criminosos, a ocultá-lo, inclusive das esposas, amigos e conhecidos, como deve fazer todo o adúltero que se preze. Um mais atrevido (Twist), outro introvertido (Del-Mar), tudo faz deles partners in crime ideais. Já muitos realizadores trataram o tema, alguns, como Fassbinder e Almodovar, de uma maneira menos bela, menos suave, mas, por isso mesmo, mais crua, implacável e despudorada.
Porque nos States ainda se ensina o criacionismo, Ang Lee tomou todas as precauções, e fez muito bem.
Planos a régua e esquadro, encenação rigorosa, fotografia fuji (cores não saturadas, nem nos adereços), uma história contada como mandam as regras: cenário do crime, desenvolvimento piano, forte, molto forte, fortíssimo, piano, pianíssimo, The End.
Os actores dão o que podem dar, embora Jake Gyllenhall seja brilhante, também porque a personagem lho permite. Já Heath Ledger talvez pudesse fazer melhor, e este é o meu senão. Explico-me: sente-se-lhe falta de espontaneidade, tanto na fala como nos grunhidos, e suspeito que a culpa não é dele. Enfim, um filme correcto em todos os aspectos, quase perfeito. Um filme bom para os óscares, mas um filme demasiado correcto para o meu gosto. É tudo demasiado óptimo, mas a verdade é que não há um sopro de genialidade em tudo aquilo, o que é o normal para óscar, embora haja excepções, sobretudo de filmes estrangeiros. Por exemplo, o próprio Almodovar, com "Tudo sobre a minha mãe".
Estrelas?: *** Porque o respeito cego do cânone estraga a arte e cega quem a vê

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Walk the line

"Anda na linha, meu!" é um título óptimo para este filme, tirado da música de Johnny Cash, I walk the line (Eu ando na linha!). De facto, não é o filme que Johnny Cash merece, embora trate daquilo que duas mulheres procuraram fazer da vida dele.
Uma, Vivian Cash, procurou reduzi-lo ao homo galinacius, que tinha de cuidar do ninho, da galinha e dos pintainhos; a outra, June Carter, fê-lo entrar na linha, mas para que voltasse a ser de novo o Johnny Cash song writer and singer: a walking contradition, como canta Kris Kristoferson, mas sem anfetaminas. Não é o argumento em si que ponho em causa, mas a lamechice.
Há uma coisa em cinema que se chama elipse, por isso não havia necessidade de perder tanto tempo com a primeira mulher, nem com as incompatibilidades dela com a carreira dele; não era necessário matraquilhar tantos amuos entre Cash e June; também não era necessário repetir tantas vezes o Ring of fire, quando Cash cantou tantas canções. Pena é James Mangold, o realizador, não se ter lembrado, por exemplo de One (ouçam o extracto do link), um tributo a June, que confessou, já no final da vida a dois: "He's a very rare man, a very good man, and I've had a good life with him. I'm proud to be walking in the wake of Johnny's fame." Confesso que me comovi várias vezes durante a projecção, mas apenas por me fazer evocar a voz que ele foi de todos os off the line ressacados da grande depressão, nos quais também se incluía: uma voz profunda, grave, que ressoa e nos envolve como um líquido amniótico, e nos faz dobrar sobre nós mesmos como bichinhos de conta. E aqui residiu a minha maior decepção. Joaquin Phoenix, o actor que tenta cantar como Cash, está a milhas, não em termos de qualidade, mas de semelhança; sobre a voz de Reese Whiterspoon, não me pronuncio porque nunca ouvi nenhuma canção June Carter, nem sequer com Cash. Mangold desculpa-se com a boca de que quem quiser ouvir Johnny Cash não precisa de ver o filme. O problema é que o homem e a voz são ONE. Eu admito a dificuldade, mas, como é difícil fazer gostar deste filme quem não gosta ou desconheça Cash, talvez tivesse sido preferível fazer karaok com as próprias canções dele. Das vozes "de" Elvis, Jerry Lee Lewis e Orbison não vem mal ao mundo, por funcionarem mais como damas de honor de Cash, do que deles mesmos.
Destaco as interpretações de Robert Patrick, o pai de Cash, de Reese Whitherspoon e também de Joaquin Phoenix, que não tem culpa da maldade que lhe fizeram. Destaco ainda, para não ser injusto, a cena da sessão na prisão de Folsom. Não sei porquê, fez-me lembrar "The Blues Brothers", de John Landis... E isso vale bem uma estrela; as outras duas são por Johnny Cash, ele mesmo. ***

One:
http://www.last.fm/music/Johnny+Cash/_/One

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Os 10 Mandamentos do kinófilo

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

É procurar no cinema, na videoteca, pedir emprestado a um amigo. É um filme não apenas sobre uma mulher, mas sobre toda uma família e toda aquela sociedade. Mas também é para homens: para os pais, e os filhos que todos somos. Mike Leigh não julga ninguém. Todas as personagens são tratadas com atenção e não como meros adereços que rodeiam Vera Drake (óscar 2005 de Imelda Staunton para a melhor actriz). Tudo gira, é certo, à volta dela, porque a sua, bondade e simplicidade tudo polariza. É um filme de emoções contidas e silêncios que gritam. Simples e autêntico, como Vera. Cru e directo, sem rodriguinhos nem fundos musicais manipuladores: um filme para ver e rever. Estrelas? *****

Match Point : Allen em todo o seu esplendor




http://www.oscar.com/video/index.html?channel=NominatedFilms&clip=2547
A crítica já tinha liquidado Woody Allen, e ei-lo de regresso com um filme tão imprevisto que os deixou a todos de cara à banda. Não é o Woody neurasténico e obcecado sexual que eu nunca reneguei e de quem sempre fui incondicional. Para mim não há filmes maus de Woody; há filmes de que gosto menos. Allen criou a personagem de si, tal como Chaplin criou criou a dele. Com ela fez dezenas de curtas médias e longas metragens, sem nunca ninguém lhe ir mão. Só foram, quando abandonou Charlot. Mas não tiveram coragem para ir, quando fez o derradeiro filme, o penoso Condessa de Hong-Kong.
Allen é um mestre da narrativa, da sequência e da direcção de actores (sabe dirigir os seus, os de estimação, e os outros, como neste volta a comprovar). Mas o homem Woody, atenção, está também - e muito - em Match Point: o argumento é dele. Está na obcessão amorosa de Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers). Filmado em Londres (sem fog nem "céu plúmbeo"), com actores ingleses, à excepção de Scarlett Johanssen (Nola Rice no filme), portanto sem Woody, é a prova provada, se alguém a necessitasse, de que Interiors não foi obra de acaso, nem Woody Allen está esquecido.
A trama policial acompanha o ritmo dos sentimentos sem acelerações, travagens bruscas ou as manobras perigosas em que esbarram com frequência tantos e tantos realizadores. Interiors, disse a crítica da altura, era bergmaniano. Match Point será o quê? Para mim, é Woody Allen. Estrelas? Todas:
*****