quinta-feira, junho 04, 2009
Cadê o cinema
Não sei se é do cinema ou de mim, talvez esta hipótese seja a mais certa, mas a verdade é que o cinema começa àborrecer-me. Parece que quanto mais se vê menos há para ver como acontece com todas as formas de arte: a literatura é outro caso flagrante. Os monstros sagrados foram-se e agora patinha-se nos escombros a ver se sai alguma coisa, mas apenas se vislumbram seres ainda informes que parecem coisas e talvez sejam o princípio de algo novo. Estas fases pastosas, quandos as formas e os conteúdos se esgotam, o que em tempos se chamou gongorismo, são penosas, mas são também o cad/cam/inho da ressurreição. Respeito, e estou atento aos sinais, mas confesso que me vai faltando a pachorra. Aturem-nos vocês; eu vou continuar a ver e a rever os meus velhinhos e espreitar as promessas.
quinta-feira, janeiro 31, 2008
Gone, baby, gone
Tenho estranhado o retardar da estreia deste filme em Portugal, mas já encontrei explicação. As minhas suspeitas confirmaram-se na notícia do Sol de 13 de Setembro de 2007!: A estreia de Gone Baby Gone, realizado por Ben Affleck, foi adiada no Reino Unido devido às semelhanças com o desaoarecimento de Madeleine McCann. Estamos a 31 de Janeiro de 2008! Pelo menos em Portugal, o adiamento continua. Estranho...pesado silêncio. Conivência? -Nem pensar!: coincidência! Subserviência? -Nem pensar!; coincidência.
O culpado de tudo foi quem apresentou D. Filipa de Lencastre a D. João I.
Gostei tanto do livro de Dennis Lehane, de quem li tudo em português, à excepção de Mystic River do qual apenas vi o magnífico filme de Clint Eastwood. Por isso estava com grande curiosidade em vê-lo. E já o vi... infelizmente! O argumento da correponsabilidade do realizador e de Aaron Stockard é um desastre. Eu sei que num filme não pode caber tudo o que um livro contém, mas pelo menos o clima e a respiração deve lá estar. Não basta o achado de Michelle Monagaham: belíissima, discreta, sensível e inteligente, o retrato exacto que Lehane faz de Angela Genaro. Não basta Morgan Freeman, não basta a histeria de Amy Madigan (a tia de Amanda, a miuda desaparecida). Ao dectective Broussard, mal empregado actor, retiraram a corte incomodativa a Angie. Não basta Amy Ryan, a mãe de Amanda. Não basta ter arranjado uma sóziazita de Maddie. Um filme requer tempo. Tempo não quer dizer que se tenha de fazer um filme longo; quer dizer que se devem dar às cenas o tempo que a caracterização das personagens e das situações requerem. Não é condensá-las e atá-las como chouriços e "toma lá! A trama conta-se em poucas palavras: um casal de detectives é enredado num caso de rapto e conduzido, através de pistas viciadas, por personagens com interesses, ora antagónicos ora coincidentes, a sucessivas armadilhas a que com maiores ou menores danos e dificuldades vão sobrevivendo e daí, e de outros acaso, tiram as pistas para reolverem o enigma. Um bom argumento requer um fio condutor sólido. Quando não existe , sobra para a conversa. No cinema americano que nos inunda isso é prática corrente. Em resumo: leiam o livro e esqueçam o filme...quando ele estrear e sua Majestade Britânica autorizar.
O culpado de tudo foi quem apresentou D. Filipa de Lencastre a D. João I.
Gostei tanto do livro de Dennis Lehane, de quem li tudo em português, à excepção de Mystic River do qual apenas vi o magnífico filme de Clint Eastwood. Por isso estava com grande curiosidade em vê-lo. E já o vi... infelizmente! O argumento da correponsabilidade do realizador e de Aaron Stockard é um desastre. Eu sei que num filme não pode caber tudo o que um livro contém, mas pelo menos o clima e a respiração deve lá estar. Não basta o achado de Michelle Monagaham: belíissima, discreta, sensível e inteligente, o retrato exacto que Lehane faz de Angela Genaro. Não basta Morgan Freeman, não basta a histeria de Amy Madigan (a tia de Amanda, a miuda desaparecida). Ao dectective Broussard, mal empregado actor, retiraram a corte incomodativa a Angie. Não basta Amy Ryan, a mãe de Amanda. Não basta ter arranjado uma sóziazita de Maddie. Um filme requer tempo. Tempo não quer dizer que se tenha de fazer um filme longo; quer dizer que se devem dar às cenas o tempo que a caracterização das personagens e das situações requerem. Não é condensá-las e atá-las como chouriços e "toma lá! A trama conta-se em poucas palavras: um casal de detectives é enredado num caso de rapto e conduzido, através de pistas viciadas, por personagens com interesses, ora antagónicos ora coincidentes, a sucessivas armadilhas a que com maiores ou menores danos e dificuldades vão sobrevivendo e daí, e de outros acaso, tiram as pistas para reolverem o enigma. Um bom argumento requer um fio condutor sólido. Quando não existe , sobra para a conversa. No cinema americano que nos inunda isso é prática corrente. Em resumo: leiam o livro e esqueçam o filme...quando ele estrear e sua Majestade Britânica autorizar.
quinta-feira, janeiro 10, 2008
Duelo no Missouri / The Missouri Breaks
THE BEST WESTERN EVER SEEN!
Será possível que não exista neste país, NEM IMPORTADO! este filme? É verdade e é triste.
Não sei porque esperam os senhores editores, sempre tão apressados em pôr cá fora a última chachada, em editar este best.
Bem pode o Eastwood fazer um remake sub-reptício do Shane chamado Pale Rider que nunca lhe chegará aos calcanhares. E onde está o Mc Cabe and Misses Miller de Robert Altman. Vá, Senhores, façam alguma coisa de útil...
Será possível que não exista neste país, NEM IMPORTADO! este filme? É verdade e é triste.
Não sei porque esperam os senhores editores, sempre tão apressados em pôr cá fora a última chachada, em editar este best.
Bem pode o Eastwood fazer um remake sub-reptício do Shane chamado Pale Rider que nunca lhe chegará aos calcanhares. E onde está o Mc Cabe and Misses Miller de Robert Altman. Vá, Senhores, façam alguma coisa de útil...
domingo, setembro 09, 2007
Voltar a La Strada
Nestes tempos de chumbo, em que o cinema que nos chega nos convida antes a rever velho cinema e a ver ou a rever aquele, o mítico, o que nunca vimos ou de que sempre ouvimos falar e nunca tivemos oportunida de ver. É preferível, pensei, ver do bom, mesmo velhinho, a enfiar-me em salas fastfood a rever remakes inúteis ou fast-filmes ensurdecedores (rais-partam os surrounds e afins), tesouradas a esmo, efeitos especiais do caraças, gandas actores à mistura, é verdade - tão bons que nos perguntamos, "mas o que faz este gajo/a nesta merda de filme?" - argumentos esfalfados mais vírgula menos vírgula, daqueles que depois de 1/2 dúzia de planos já sabemos como acabam e até prevemos onde o argumentista vai meter uma variaçãozita para dar ares de originalidade.
Durante décadas entendeu-se que o bom cinema tinha a ver com um bom argumento, bem cerzido e surpreendente, bons actores, bem dirigidos, boa fotografia, efeitos e banda sonora adequada. A imaginação e a criatividade, o experimentalismo de todos os artifices girava em torno disto e em torno disto evoluiu esse cinema. Tudo ao serviço de uma ideia. Claro que, à mistura, se produzia muita babugem pesadona com orçamentos elefantinos que nada de novo acrescentava; servia apenas para sustentar o star-system e engordar as grandes produtoras.
Hoje parece estarmos perante um novo paradigma: o novo riquismo, a variedade e a velocidade de mutação tecnológica constituem o eixo à roda do qual se estrutura o modus faciendi dos filmes. O que era um acessório passou a essencial. Por exemplo, há filmes em que a câmara bêbeda não é um meio; é um fim. E o mesmo com o som e os efeitos especiais, os cenários, o vestuário, et. O gongorismo impera, embora não seja um mau presságio, pois estas fases rebuscadas sabemos que são passageiras e cíclicas após longos períodos de evolução. Digamos que é uma espécie de pousio antes de o ciclo vegetatativo se recompor e retomar o curso normal. Só que teve de acontecer comigo, caramba!
Por isso ver esta maravilha, onde tudo o que interessa é o que se passa no rectângulo mágico, com Gesolmina, Zampanò, Il Matto, os seus sentimentos e gestos, as relações entre eles e o mundo que os cerca, como olham e são olhados. Há um final, claro, mas há um gozo raro em cada plano, movimento, sequência. Há filmes, cada vez mais infelizmente, em que o único interesse é saber como acabam. Mas neste, como em todos os bons filmes, isso é o que menos interessa. E mais; e um aviso: quem viu o 8 e1/2 reveja La Strada e reveja depois o 8 e1/2...
Durante décadas entendeu-se que o bom cinema tinha a ver com um bom argumento, bem cerzido e surpreendente, bons actores, bem dirigidos, boa fotografia, efeitos e banda sonora adequada. A imaginação e a criatividade, o experimentalismo de todos os artifices girava em torno disto e em torno disto evoluiu esse cinema. Tudo ao serviço de uma ideia. Claro que, à mistura, se produzia muita babugem pesadona com orçamentos elefantinos que nada de novo acrescentava; servia apenas para sustentar o star-system e engordar as grandes produtoras.
Hoje parece estarmos perante um novo paradigma: o novo riquismo, a variedade e a velocidade de mutação tecnológica constituem o eixo à roda do qual se estrutura o modus faciendi dos filmes. O que era um acessório passou a essencial. Por exemplo, há filmes em que a câmara bêbeda não é um meio; é um fim. E o mesmo com o som e os efeitos especiais, os cenários, o vestuário, et. O gongorismo impera, embora não seja um mau presságio, pois estas fases rebuscadas sabemos que são passageiras e cíclicas após longos períodos de evolução. Digamos que é uma espécie de pousio antes de o ciclo vegetatativo se recompor e retomar o curso normal. Só que teve de acontecer comigo, caramba!
Por isso ver esta maravilha, onde tudo o que interessa é o que se passa no rectângulo mágico, com Gesolmina, Zampanò, Il Matto, os seus sentimentos e gestos, as relações entre eles e o mundo que os cerca, como olham e são olhados. Há um final, claro, mas há um gozo raro em cada plano, movimento, sequência. Há filmes, cada vez mais infelizmente, em que o único interesse é saber como acabam. Mas neste, como em todos os bons filmes, isso é o que menos interessa. E mais; e um aviso: quem viu o 8 e1/2 reveja La Strada e reveja depois o 8 e1/2...
quarta-feira, março 14, 2007
El Embrujo de Shangai: o feitiço do cinema
Eu já tinha lido o belíssimo livro de Juan Marsé, de quem recordo também Ultimas tardes com Teresa e Si te dicen que caí (Canções de Amor em Lolita’s Club está por pouco), e quando encontrei o filme de Fernando Trueba num videoclube corri para casa a vê-lo.
Fernando Fernán Gomez, que já conhecia de outros filmes, encarna o Capitão Blay até à medula. O velho anarquista que sai do esconderijo pela porta do armário, vai para a rua de roupão e cabeça enfaixada, mija às claras e sem pressa na rua e compra o jornal franquista só pelo prazer de queimá-lo, terá doravante para mim, sempre o nome de Fernando Fernán Gomez. E um filme onde a realidade e o sonho/desejo se canibalizam sem se destruírem pois só assim sobrevivem, é um filme sobre crescimento, morte, persistência e ausência, chegadas e partidas de um lugar real para lugares míticos. E um filme que nos remexe por dentro como se remexe a massa do pão na maceira. E inesquecível.
Nesta entrevista com Fernando Fernán Gomez, que poderão ler no site aqui vos deixo, pode perceber-se como o actor conseguiu o milagre da cozedura preparada por Fernando Trueba.
terça-feira, fevereiro 27, 2007
O Homem do Rickshaw. Japão 1958, apenas 13 anos após a rendição
De Hiroshi Inagaki com o enorme Toshiro Mifune. Com este filme aprendi que qualquer momento pode ser o momento de toda a nossa vida. Tal como o pobre homem que revê à hora da morte, através da raios da roda do rickshaw que toda a vida empurrou, deslizarem num flash back cada vez mais vertiginoso até ao ralenti final todos os momentos da sua existência, por várias vezes eu me imaginei chegado à hora suprema para desse modo tentar rever memórias esquecidas. Até agora isso nunca funcionou, mas um dia, e se tempo me for concedido, espero aconteça...
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
A propósito de BABEL: Iñarritu irrita os críticos
Os críticos de cinema do P, num gesto de solidariedade admirável, resolveram, por unanimidade e aclamação, solidarizar-se com a administração Bush e declararam Babel ferido de antiamericanismo primário. Até aqui, tudo bem, cada um acha o que lhe dá na bolha, seja ele americanófilo primário ou não. Até sou capaz de apostar que muita gente boa dos Usa vai ver o filme e gostar: serão todos anti-americanos? Se os chuis do filme agem como nazis, a culpa se calhar é dos média americanos que nos bombardeiam com cenas de polícias a sovar desalmadamente cidadâos, pretos de preferência. São americanas as imagens da tortura de prisioneiros no Iraque e Guantânamo, como americanas são as imagens de cenas chocantes na fronteira com o México. Pois é, mas os nossos críticos não esquecem Álamo, nem Pearl Harbour, nem o 11 de Setembro. Por isso eles amam a Rocky Balboa.
Bom, com tudo isto, a gente fica mesmo sem saber se o filme é mesmo tão mau que mereça o linchamento (como se sabe uma invenção do americano Lynch, não o David) e por isso as salas onde o filme persiste continuam a registar boas audiências. Azar dos távoras. Por mim confesso que continuo a prefirir o "Amores perros", mas Babel, meus caros, está longe de ser um mau filme. A propósito, também gosto muito de "O triunfo da vontade" da Leni Riefenstahl, apesar de nazi primário e de Intolerance, apesar de americano primário, e do Couraçado Potemkine, apesar de comunista primário. E também não perceberam o que faz lá a espingarda do japonês, coitados. Não sabem que em 1853 foi o comodoro americano Perry que forçou os japoneses a abrirem os seus portos ao comércio dos usa. Azar dos távoras, que eles aprenderam bem depressa. Em resumo, continuem a ler as críticas, mas não se fiem nos críticos que utilizam argumentação primária e sectária.
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