sexta-feira, fevereiro 24, 2006

CAPOTE, a quente


O que há de
comum entre
estas quatro
imagens:
três filmes e dois escritores?
Para quem não viu, Harper Lee acompanhou Truman Capote durante as pesquisas sobre o massacre de uma família no Kansas em 1959 e escreveu o livro "To Kill a Mocking Bird" (1963), que deu um filme, sublime de ternura, de Robert Mulligan. "Capote" centra-se no período e nas circunstâncias que deram origem ao livro "In cold blood", de Truman Capote, que Richard Brooks adaptou ao cinema em 1967. Os filmes de 63 e 67 foram nomeados para os óscares de melhor realização, que seriam ganhos, respectivamente por Tony Richardson, com "Tom Jones", e Mike Nichols, com "The Graduate", dois filmes respeitáveis e de culto.
"Capote" vai com certeza ter óscares, pelo menos está nomeado para uma série deles: melhor filme, melhor actor, melhor secundário e melhor argumento. Os óscares fizeram-se para promover e vender o cinema dos USA nos USA, ou os vendáveis lá e no mundo .
Philip Hoffman não vai passar a ser melhor actor do que já é, mas finalmente irá deixar de ser o eterno secundário, premiado e muito nomeado, apesar de já ter ganho um como melhor actor no Festival de Vancouver.
Do realizador Bennet Miller havia até agora apenas um episódio de "Charlie Rose Show" para TV e "The cruise"; pelas críticas, um documentário interessante sobre Nova Iorque. É pouco? É o suficiente para fazer uma entrada triunfal num filme de grande orçamento.
Mas Bennet não se deixou dominar pelos meios que teve à disposição e construiu um filme onde a única exuberância é a de Capote/Seymour na parte inicial do filme. Exuberância que vai definhando à medida que ele escava as circunstâncias do crime, as motivações dos criminosos e as raízes do acto, sobretudo de Perry (um Clifton Collins Jr., à Montgomery Clift-on). A qualidade da interpretação de Seymour revela-se no modo imperceptível como decresce de exuberância, até ao abatimento emocional, quando tudo acaba, até o fervor da escrita. A própria cor, sempre esbatida, ensombrece à medida que o filme avança. Os silêncios e os diálogos são os os grandes tensores. A própria cena final prima pela contenção. Está tudo dito, tudo feito e Capote encerra-se no seu labirinto. A câmara, mesmo quando faz uma panorâmica curta e trémula sobre os trémulos condenados, já vestidos com os atavios do ritual da execução, não se serve a si, serve o filme. A consciência de que o que separa falhados de triunfadores, nascidos e criados em circunstâncias idênticas, é tão só a saída pela porta dos fundos ou da frente (metáfora de Capote), devia-nos fazer pensar - a todos - no papel do acaso nas nossa vidas.
Enfim, um filme muito bom, de um realizador muito bom. A não perder.
Estrelas? **** (Falta uma, pelo crime de quase nos fazer esquecer o filme de Brooks)

1 comentário:

Anónimo disse...

Bonjour...