sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Walk the line

"Anda na linha, meu!" é um título óptimo para este filme, tirado da música de Johnny Cash, I walk the line (Eu ando na linha!). De facto, não é o filme que Johnny Cash merece, embora trate daquilo que duas mulheres procuraram fazer da vida dele.
Uma, Vivian Cash, procurou reduzi-lo ao homo galinacius, que tinha de cuidar do ninho, da galinha e dos pintainhos; a outra, June Carter, fê-lo entrar na linha, mas para que voltasse a ser de novo o Johnny Cash song writer and singer: a walking contradition, como canta Kris Kristoferson, mas sem anfetaminas. Não é o argumento em si que ponho em causa, mas a lamechice.
Há uma coisa em cinema que se chama elipse, por isso não havia necessidade de perder tanto tempo com a primeira mulher, nem com as incompatibilidades dela com a carreira dele; não era necessário matraquilhar tantos amuos entre Cash e June; também não era necessário repetir tantas vezes o Ring of fire, quando Cash cantou tantas canções. Pena é James Mangold, o realizador, não se ter lembrado, por exemplo de One (ouçam o extracto do link), um tributo a June, que confessou, já no final da vida a dois: "He's a very rare man, a very good man, and I've had a good life with him. I'm proud to be walking in the wake of Johnny's fame." Confesso que me comovi várias vezes durante a projecção, mas apenas por me fazer evocar a voz que ele foi de todos os off the line ressacados da grande depressão, nos quais também se incluía: uma voz profunda, grave, que ressoa e nos envolve como um líquido amniótico, e nos faz dobrar sobre nós mesmos como bichinhos de conta. E aqui residiu a minha maior decepção. Joaquin Phoenix, o actor que tenta cantar como Cash, está a milhas, não em termos de qualidade, mas de semelhança; sobre a voz de Reese Whiterspoon, não me pronuncio porque nunca ouvi nenhuma canção June Carter, nem sequer com Cash. Mangold desculpa-se com a boca de que quem quiser ouvir Johnny Cash não precisa de ver o filme. O problema é que o homem e a voz são ONE. Eu admito a dificuldade, mas, como é difícil fazer gostar deste filme quem não gosta ou desconheça Cash, talvez tivesse sido preferível fazer karaok com as próprias canções dele. Das vozes "de" Elvis, Jerry Lee Lewis e Orbison não vem mal ao mundo, por funcionarem mais como damas de honor de Cash, do que deles mesmos.
Destaco as interpretações de Robert Patrick, o pai de Cash, de Reese Whitherspoon e também de Joaquin Phoenix, que não tem culpa da maldade que lhe fizeram. Destaco ainda, para não ser injusto, a cena da sessão na prisão de Folsom. Não sei porquê, fez-me lembrar "The Blues Brothers", de John Landis... E isso vale bem uma estrela; as outras duas são por Johnny Cash, ele mesmo. ***

One:
http://www.last.fm/music/Johnny+Cash/_/One

4 comentários:

ni disse...

o que vale é que tu escreves sempre bem, mesmo sobre filmes que fiquem a milhas da excelência...
;o)

beijos e abraços

Amandio Nogueira disse...

Obrigado, Chikinha,
Curiosamente as estrelas do público de hoje vem todas tb c7 3 estrelas para o Walk de Line; só não sei se são pelas mesmas razões.

Bjinhos

T disse...

Exactamente o filme sobre o que eu queria ler:)

Parabéns pai da Lia:)
Quando quiseres escrever no nosso blog, és sempre bem vindo:)

lebredoarrozal disse...

que maravilha de blog:)
parabéns ao pai da minha niiim linda:)