terça-feira, fevereiro 21, 2006

Brockeback Mountain: o Segredo


Basta ver a foto para adivinhar o segredo que existe entre Del-Mar e Twist: eles cometeram um crime e estão envergonhados.
Diga-se que, como história, não é original, só que, neste caso, o crime foi cometido e reincidido ene vezes num cenário de bilhete postal, embora agreste: até neva em Agosto.
Rodeados de ovelhas e montanhas, cercados por desfiladeiros, rios tumultuosos, coiotes, alces e ursos, tudo aproxima estes cavaleiros olvidados da grande democracia estado-unidense (que raio de país que nem nome tem!) e os move a perpetrarem o crime horrendo e, como todos os criminosos, a ocultá-lo, inclusive das esposas, amigos e conhecidos, como deve fazer todo o adúltero que se preze. Um mais atrevido (Twist), outro introvertido (Del-Mar), tudo faz deles partners in crime ideais. Já muitos realizadores trataram o tema, alguns, como Fassbinder e Almodovar, de uma maneira menos bela, menos suave, mas, por isso mesmo, mais crua, implacável e despudorada.
Porque nos States ainda se ensina o criacionismo, Ang Lee tomou todas as precauções, e fez muito bem.
Planos a régua e esquadro, encenação rigorosa, fotografia fuji (cores não saturadas, nem nos adereços), uma história contada como mandam as regras: cenário do crime, desenvolvimento piano, forte, molto forte, fortíssimo, piano, pianíssimo, The End.
Os actores dão o que podem dar, embora Jake Gyllenhall seja brilhante, também porque a personagem lho permite. Já Heath Ledger talvez pudesse fazer melhor, e este é o meu senão. Explico-me: sente-se-lhe falta de espontaneidade, tanto na fala como nos grunhidos, e suspeito que a culpa não é dele. Enfim, um filme correcto em todos os aspectos, quase perfeito. Um filme bom para os óscares, mas um filme demasiado correcto para o meu gosto. É tudo demasiado óptimo, mas a verdade é que não há um sopro de genialidade em tudo aquilo, o que é o normal para óscar, embora haja excepções, sobretudo de filmes estrangeiros. Por exemplo, o próprio Almodovar, com "Tudo sobre a minha mãe".
Estrelas?: *** Porque o respeito cego do cânone estraga a arte e cega quem a vê

2 comentários:

T disse...

Ora bem Kino..disseste tudo...Quem recorda Fassbinder acha isto tudo uma versão limpa, depurada e gostável duma sexualidade que para alguns aindaé condenável.

O filme é bonzinho. Abri a boca não sei quantas vezes.
Não tenho pachorra para lamechices lucrativas. Lamechemos mas em privado ou com amigos.

Ricardo disse...

Depois de ler este post é que fico definitivamente decidido: este filme vê-lo-ei quando for transmitido pela RTP1 no Natal.